Alívio

Seca segue recuando no Rio Grande do Sul

Nos últimos meses, as chuvas mais intensas caem exatamente nas áreas que foram mais afetadas pela estiagem no Estado

Jô Folha -

O novo relatório divulgado pela Agência Nacional de Águas (ANA) reforça o retrato confirmado no campo, no Rio Grande do Sul. Com mais um mês de chuvas acima da média, a seca segue recuando nas regiões noroeste, norte e nordeste; as mais afetadas do Estado. Já na Metade Sul, a precipitação não tem registrado a mesma intensidade. Ao contrário de outras áreas do território gaúcho, maio e junho, inclusive, ficaram abaixo da normal. Ainda não é o suficiente para gerar preocupação.

Quem faz a análise é a meteorologista da Sala de Situação do Estado, Vanessa Gehm. “No contexto meteorológico não observamos essas chuvas abaixo da média como ponto negativo, pois mesmo com volumes pouco expressivos, trouxeram um alívio na condição de estiagem”, destaca. E afirma com o conhecimento de quem monitora dados que alimentam as ações das equipes da Defesa Civil.

O fato de os meses de março e abril terem superado a normal para o período em mais de 60 milímetros, em cidades como Pelotas, por exemplo, ajuda a criar um cenário de estabilidade. Ainda assim, o engenheiro agrônomo da Emater, Evair Ehlert, admite que os olhares estão voltados também à recuperação de mananciais, na região. “Precisamos de um inverno que ajude a recuperá-los. Senão, poderemos ter comprometimento na próxima safra de arroz”, afirma.

E não é para menos. A última estiagem espalhou prejuízos a diferentes culturas na Zona Sul. Só no abastecimento de água, 830 famílias de 17 municípios tiveram problemas.

Área pequena, mas com olhar à frente
O momento é de preparo da terra. E o jeito é buscar técnicas, como a aplicação de palhada, que ajudem a reter a umidade. As perdas provocadas pela combinação entre chuva escassa e altas temperaturas, principalmente nos primeiros dias de 2022, atingiram 22% da produção. “Se fosse só a seca não teria sido tão horrível, mas a temperatura chegou a 39ºC, com sensação de uns 45ºC”, conta William da Silva Schaun, 29. “Teve uma paralisia da planta. Além de não absorver o adubo, a planta murcha. Aí, a folha não abre, não protege o fruto, que fica e exposto ao sol, e muitos tiveram que ser descartados”, lamenta, ao se referir à produção de pepino e de pimentão.

No milho não foi diferente. Também ocorreram perdas. A fase era, exatamente, a da floração. E com a circulação dos insetos em baixa, a polinização ficou comprometida. Daí a importância de a família, moradora da Colônia Cristal - no 5º distrito de Pelotas -, diversificar a produção. Se um dos cultivos registra prejuízos em uma determinada época do ano, há chance de em outro período os resultados serem mais positivos.

E para tentar reduzir os riscos, nos últimos anos, os Schaun têm investido em infraestrutura. Hoje contam com dois açudes e irrigação suficiente para 30% da produção. A intenção, daqui para frente, é ampliar o sistema e ainda instalar proteção com telas para amenizar os efeitos do clima extremo. “Como temos uma área pequena, fazemos todo o esforço para que a nossa lavoura expresse todo o seu potencial”, afirma.

Atualmente, além do pepino, do milho e do pimentão, a família também cultiva pêssego, amora preta e abóbora. “Estamos sempre buscando oportunidades de melhorar”, reforça o jovem, que fez questão de se qualificar e voltar para o campo. Em 2019, William formou-se em Agronomia na Faculdade Eliseu Maciel da Universidade Federal de Pelotas (Faem-UFPel). Agora, ao trocar experiência e conhecimento com o pai Anderson Schaun, 59, corre atrás de meios para que os 5,3 hectares - 1,1 hectare arrendado - sejam o mais produtivo possível.

E uma das estratégias é o aproveitamento de espaços. É o que ocorre a cada janeiro, quando o pomar de pêssego já encerrou a safra e as fileiras passam a receber a plantação de abóbora. No inverno, quando é a hora da poda das árvores e preparo para o novo ciclo, a produção dos legumes já se esgotou. “Dessa forma, a própria terra já tá mais preparada”, garante.

La Niña pode permanecer na primavera
A previsão ainda está muito distante, mas prognósticos apontam para influências do La Niña até a primavera. “Por enquanto, se mantém com moderada intensidade até novembro”, destaca a meteorologista da Sala de Situação do Rio Grande do Sul, Vanessa Gehm. E, ainda que o fenômeno provoque chuvas e temperatura abaixo da média, a tendência é de que em julho a precipitação fique levemente acima da normal na Metade Sul, especificamente em áreas de fronteira com o Uruguai.

Já nos próximos meses, entretanto, a previsão é de que o La Niña se intensifique - alerta Vanessa. E acrescenta: “Pode-se dizer que neste momento, o RS está numa condição climática confortável”.

Confira informações do Monitor das Secas
O último relatório emitido pelo Monitor das Secas - criado no país, em 2012 - aponta: o volume intenso de chuvas provocou o abrandamento da seca no Rio Grande do Sul, que passou de grave para moderada no noroeste e de moderada para fraca no norte. O material preparado com base em dados do mês de maio, liberados pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), também demonstra que houve recuo da seca fraca no extremo nordeste do Estado. Os impactos são de longo prazo.

Entre março e abril, o Rio Grande do Sul já havia tido um recuo de 100% para 88% de seu território com seca, devido às chuvas acima da média, o que era o menor percentual entre os estados do Sul. Desde setembro de 2020, era a primeira vez que o RS registrava áreas livres de seca e os 88% representavam a segunda menor área com registro do fenômeno desde o início do acompanhamento do Monitor de Secas no Estado, em agosto de 2020. Apenas em setembro daquele ano houve uma área menor com o fenômeno: 87%.

Com seca em 247,9 mil quilômetros quadrados, território superior ao do Reino Unido, o Rio Grande do Sul teve a 5ª maior área seca do Brasil, atrás somente de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo. Em termos de severidade, o Estado teve um abrandamento do quadro, com o desaparecimento das áreas com seca extrema, mas os 45% de seca grave colocavam o território gaúcho com a situação mais severa do Sul.

O Monitor de Secas é coordenado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), com o apoio da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos e desenvolvido em conjunto com diversas instituições estaduais e federais ligadas às áreas de clima e recursos hídricos, que atuam na autoria e validação dos mapas.

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Veja os volumes de chuva pelo Estado
Janeiro: Chuvas muito abaixo da média climatológica em boa parte do RS, exceto na faixa leste, como o extremo sul, próximo à Lagoa dos Patos, Região Metropolitana de Porto Alegre e Litoral Norte. Nessas regiões, o acumulado alcançou 150 mm.

Fevereiro: Todo o Estado teve chuvas abaixo da média, com volumes de 10 mm apenas no oeste do RS, Região Metropolitana de Porto Alegre e Litoral Norte.

Março: Acumulados de chuva acima da normal climatológica em praticamente todas as regiões, com volumes muito acima da média (entre 200 e 250 mm) entre o Noroeste e o Norte do Estado.

Abril: Volumes de 250 mm em áreas da Metade Oeste. No Noroeste as chuvas chegaram a 350 mm. Nestas regiões, os acumulados ficaram acima da média climatológica. As demais apresentaram volumes abaixo da normal; Pelotas é uma das exceções.

Maio: Os maiores acumulados caíram entre o Noroeste, o Norte e o Nordeste gaúchos, variando entre 200 e 300 mm. No restante do Estado, os volumes ficaram abaixo da normal.

Junho: O maior volume ocorreu na Serra, com um total de 250 mm. Já as regiões das Missões, Norte e Nordeste gaúchos registraram precipitação acima de 150 mm. Os acumulados ficaram bem acima da média climatológica mensal. Já, na Metade Sul, as chuvas apresentaram volumes abaixo do esperado. Pelotas, de novo, foi exceção, embora tenha se recuperado na reta final do mês; no dia 28 choveram 43,1 milímetros.
(*) Fonte: Sala de Situação do Rio Grande do Sul

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